sábado, 29 de maio de 2010

CARTA A JOÃO VÁRIO NO CHÃO DA NOSSA TRISTEZA

Sim sabíamos que aos terraços
da suficiência não ascenderíamos
nem pelo patamar da benevolência
pois na urdidura dos pactos
pressentimos a fraqueza da carne
//
e no entanto disseram-nos
a matéria da dor é por demais sublime
para que seja apenas um dom dos ímpios
mas glorificaremos o que lá do alto
nos aperta as jugulares
//
ou desacoitados gritaremos pelo ressuscitado
enquanto a danação nos afiança o governo
das províncias onde espumeja o manancial
//
outubro sabemo-lo é nosso inimigo
monda o páramo numa corveia infrene
ringe presságios no ar salobre
quando a incandescência era ainda
para nós um alfabeto a engendrar
//
e no entanto por sob transactos céus
magnificamo-lo por entre a severidade
do pranto e a altivez do riso
embora o celeste plumitivo houvesse decretado
a loquacidade a única arte permitida
//
mas tu piério escriba de giba enganchada
aos pináculos da insolvência aguardas
como a esses que magnificam o glabro arroto
da nortada o relâmpago que ateia o rastilho
//
à lucidez — árido mister que já não solve
as nocturnas visitações ou esse donairoso sol
que pelos meses fora propagandeia o pobre
país onde sílaba a sílaba se morre
a benefício dos estereofónico demónios
toda a tarde soltando acrílicas lágrimas
à silente fífia dos metais


José Luíz Tavares

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