terça-feira, 4 de maio de 2010

Soneto das Vogais

A negro, E branco, I rubro, U verde, O azul, vogais,
inda desvendarei seus mistérios latentes:
A, velado voar de moscas reluzentes
Que zumbem ao redor dos acres lodaçais;

E, nívea candidez de tendas e areais,
Lanças de gelo, reis brancos, flores trementes;
I, escarro carmim, rubis a rir nos dentes
Da ira ou da ilusão em tristes bacanais;

U, curvas,vibrações verdes dos oceanos,
Paz de verduras, paz dos pastos, paz dos anos
Que as rugas vão urdindo entre brumas e escolhos;

O, supremo clamor cheio de estranhos versos,
Silêncios assombrados de anjos e universos;
- O! Ômega, o sol violeta dos Seus olhos!


Arthur Rimbaud (trad. de Augusto de Campos)

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